2009-11-13

Os últimos momentos de Michael Smith

Michael Smith era um sonhador, desde pequeno sonhara em ser um pistoleiro, acompanhara as aventuras de Wild Bill na adolescencia e depois as de Jesse James, sonhava com o dia que seria tão veloz no gatilho como Wild Bill e tão carismático como Jesse, pensava que seria um Wild James, gostava desse nome, quando fosse temido e respeitado usari ele, não um Michael Smith, um nome sem graça e que não evocava nada, a não ser um "ah" desinteressado de qualquer pessoa que o conhecesse.
Nos sonhos de Michael, Wild James era o maior herói do Oeste, um herói que teria impedido aquela explosão na cidade velha, um herói que cavalgaria com a xerife ao por do sol e a tomaria em seus braços, onde ela se derretiria e voltaria a ser uma dona de casa esperando pelo seu herói voltar de suas aventuras.
Mas ao invés disso Michael era apenas um atendente dos serviço postal, recebia e repassava as encomendas, raramente era agradecido por isso, mas sempre brigavam com ele quando os telegramas eram mandados errados ou quando uma carga se perdia. Como se fosse culpa dele os problemas gerados no processo entre um ponto e outro da entrega.
Recentemente até tinha ficado empolgado com a história do assalto ao trem, principalmente quando ele ficou com a caixa que era tão cobiçada pelos bandidos. Mas o jornal falava dos heróis do trem, dizia que a carga estava no serivço postal e nem citava o nome dele. Pra variar, ele não era ninguém, só mais um atendente.
Sentado atrás do balcão Michael olhava os trilhos do trem, e esperava o tempo passar.
Foi quando um homem entrou no recinto, alto, com vasto bigode, um chapéu largo, pistolas na cintura e um olhar de "você-não-quer-me-ver-bravo". Michael não queria ver ele bravo com certeza e tentou ser o mais gentil possível.
- Bom dia, o que o senhor deseja? - perguntou Michael. - Tem uma encomenda esperando por mim aqui, disse o homem. - Desculpe, mas o senhor tem certeza? O trem dessa semana já chegou e todas as encomendas forma repassadas. Michael começava a ficar preocupado, será que tinha entregue a carga do Sr. você-não-quer-me-ver-bravo pra outra pessoa. Começou a buscar em sua mente pra quem ele poderia ter entregue alguma carga errada, buscou seu livro de registros atrás de alguma resposta. Foi quando ele entendeu o que estava acontecendo.
Michael parou, nervoso, não sabia o que fazer, nunca tinha participado de um assalto e quando pensava nisso gostava de se ver como o assaltante, não tão feio quanto o Sr. "você-não-quer-me-ver-bravo", alguém mais garboso, que desarmaria moças com um sorrizo. Mas estava acontecendo o contrário, ele era a vítima e estava entrando em pânico.
- A minha carga ainda está aqui, no nome de Madeleyne Louise Stenphenson. Falou o Sr. você-não-quer-me-ver-bravo, enquanto levava a mão na arma. Michael estava mais branco que papel, paralizado, não sabia o que fazer. - Então gordinho, cadê minha encomenda? o Sr. você-não-quer-me-ver-bravo acabava de sacar a arma e apontava pra Michael que olhava pro cano da arma atônito. - Rápido gordo, eu não tenho o dia inteiro. Michael começou a se mover, uma perna de pois a outra, caminhava vagarosamente em direção a caixa que a xerife havia deixado pra ele cuidar, pensava só que não queria morrer.
Michael trouxe a caixa até o balcão, passou pela grade, o Sr. você-não-quer-me-ver-bravo apenas olhava pra ele com um sorrizo no canto da boca, pegou a caixa e começou a sair. - Bom garoto, nada de heroísmo, você não vai querer abandonar o seu servicinho né?.
Michael só pensava na xerife e no pedido dela pra cuidar da caixa, pensava em Wild Bill Hickok, e no herói que sempre sonhou ser, buscou uma força que não sabia se existia dentro dele e puxou de baixo do balcão a velha escopeta que o serviço de postagem havia dado pra ele no seu primeiro dia de trabalho. - Ei feioso! o Sr. você-não-quer-me-ver-bravo começou a se virar em na direção de Michael de novo, quando viu a escopeta apontada pra ele correu com a mão livre na direção da arma, mas foi tarde demais.
A adrenalina corria no sangue de Michael, jamais havia se sentido assim, agora sabia o que era ser um herói, o tempo ficara devagar o Sr. você-não-quer-me-ver-bravo começou a cair no chão, o tiro havia acertado em cheio as suas costas, Michael sorria, a xerife o veria como um herói, quem sabe até aceitasse sair pra ver o por do sol com ele, quem sabe poderia se candidatar à equipe de defesa da cidade, sua vida mudara, ele agora era um herói.
Em seus delírios Michael não viu o segundo homem entrando no recinto, ele apenas olhava pro corpo do homem que acabara de matar e pra carga que havia defendido, quando reparou no segundo homem já era tarde demais, não havia mais tempo de recarregar a escopeta, não havia mais tempo nem de mirar. O tempo continuava lento, mas Michael parecia mais lento ainda e naquela lentidão toda podia ver o seu algoz disparando a arma, podia ver a bala cortando o ar.
Quando caiu no chão com o peito ensanguentado, Michael não via a sua vida passar nos seus olhos, via só o que seria a sua vida a partir dalí, seus sonhos, que começariam a se realizar. Só conseguia ver a xerife aceitando seu pedido e eles saindo pra passear em um belo cavalo ao por do sol.
Infelizmente, pra Michael, seus sonhos não seriam notícias no jornal.

2 comentários:

Ju Blasina disse...

Até o momento, este foi o meu post preferido!
E, ao menos durante o eterno instante em que se dá a leitura, Michael Smith foi o meu herói ;) Faltou o "emocionante" entre as opiniões listadas - eu teria clicado nela, com certeza!

Brumas Negras disse...

Gostei muito do desenvolvimento da trama, do dinamismo e - claro - dos tiros!

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